Cuia

Botava na cuia todos aquilos que ouvia fundo nos dias que fazia chuva e/ou frio. É como se em sua imaginação pouco imaginativa e ainda pouco prática ele dispusesse lugares para caber-se quando assim ou assado. No canto alto do campo comprido verde-claro e sob azulíssimo céu, guardava-as em pequenos tijolinhos, as expectativas. Ali tudo era transformável. Era plausível reverter. Era doce flutuar.

Noutra fazenda, quase extinguiu a saturação. Num dia, catou palitos de churrasco e saiu e caçou neblinas feito algodão doce. Enrolou mais de centena daquele vê-não-vê através do ar. Era tudo carregado. Chover achava confortável. Se precisava estar triste, deitava-se ao banco duro da calçada pra distrair suas obrigações de dar satisfação mesmo quando não estava satisfeito. Suspeitava que o cinza não combinava pra ser sua cor preferida, e esfregava as folhinhas do jardim até voltá-las mais verdes.

Quem o ouvia permanecia em demorada dúvida se tudo absurdo ou se dava pra achar alguma poesia. A maioria dormia. Nem ele mesmo se acreditava toda hora.

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