Lente

Dessabido de onde guardar-nos os restos de tanta sutileza, sugeriram-lhe brilhar-nos os olhos. Descer-nos uma cortina de água a refrescar as percepções. Pra retocar o incômodo, acarinhar o pacato, até que tudo o que a gente pudesse enxergar fosse minimamente extraordinário. Na ideia dele, todas as criaturas viveriam em perpétuo encanto, apaixonado pelo infinito impossível do céu e o algodão mentiroso das nuvens. Por talvez desobediência, inconveniência ou acidente, ousamos por desfazer. O mundo maravilhoso passou a dividir-se com outros que quisemos menos magníficos. Desentendemos o brilho de águas e as ensinamos a jorrar. Sorte nossa que elas deram o troco - e decidiram que quando houvesse felicidade também deveriam comemorar.

Mas esquecidos disso, quando por dentro tudo é tanto, acaba que a gente se perde. Em labirinto pouco confortável, parece fundo demais. Que seja. Só que existe fundo em poço, fundo em lago, no mar e nos olhos. No fundo, fuundo, é a gente que prefere o que perceber. E assim, por um lado ou por outro, temos o dom de escolher o que dá pra chorar. Provavelmente por dúvida se existe e por medo se ri - o mundo bem que podia querer que sorriso e verdade pudessem bastar.