Véspera de primavera.

Se voltasse aqui, vó, eu lhe daria de presente o botão de uma flor pra amanhã vocês florirem juntas. Daria um beijo no seu pescoço, pra te irritar e pra eu me lembrar do seu cheirinho de alfazema. Ia ficar dengoso uns minutos e aí desmaiar no seu colo, até achar cafuné. Ia te sufocar de novo ao te abraçar. E ia te desejar hoje tudo de mais bonito no seu aniversário.

Por algum motivo, se fecho os olhos, só te penso sorrindo - e isso me acalma. Você está catando alguma manga no quintal, e eu chego de repente. Você me olha, apertando os olhos contra o sol, e sorri. É como se eu quisesse descer pra ficar contigo, mas, antes que eu decida, já acabou, e eu saí dali.

Assim, condenado a só lembranças, enrolo na mão um terço, pra me lembrar de você. Imagino sua voz, quando rouca, insistindo em cantar. E o Tão Sublime Sacramento hoje é hino da sua saudade. Tem hora que te sinto aqui pertinho, pertinho, tem hora que a gente está longe demais. Parabéns, de longe e de perto. Te amo.