Flor de Aurora.

Aurora levantou cedo e saiu pelo fundo da casa da vó. Achou um jardim-cartomante e começou a tirar suas cartas. Nas margaridas, ia cantando bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer. Nos girassóis, bem-me-quer, mal-me-quer. Nas tulipas, frésias, girassóis e camélias, Aurora ia perdendo o sorriso quando elas lhe foram murchando a esperança: acabavam só no mal-me-quer. Ela terminava uma e, antes de se frustrar, achava outra e se decepcionava de novo. Mais uma, e mais outra. E assim foram eternidades. Aurora seguia buscando a próxima flor, pra descascá-la em busca de um destino. Uma hora Aurora esgotou o jardim. Arrancara cada pétala de cada flor. E no fim, mal-me-quer. Como consolo, pensou que era só ter começado diferente: mal-me-quer, bem-me-quer - frágil essa tal de sorte, né? Ia já chorar, aí viu uma borboleta azul voando perto da cerca. Foi até lá. A borboleta veio até Aurora, ameaçou pousar no arco do seu cabelo, mas desistiu. Seguiu em espirais e ziguezagues até debaixo dum manto de ervas trepadeiras. Uma rosa rosa-claro desacompanhada. Aurora sabia quantas cartas tinham as rosas e sorriu. Deixou virgens as cinco pétalas de seda e foi procurar seu amor.